Uma das primeiras coisas com que me deparei quando fui estudar a Lisboa
foi de que as pessoas se catalogavam conforme o estilo de roupa, música, gostos,
forma de pensar, atitude perante a vida no geral. Já tinha visto em filmes de
high school típicos norte-americanos, mas em Portugal dei por mim dentro
daquela realidade. Os betinhos, os góticos, os hippies, os cromos…
Achei interessante.
E, como é óbvio, tendo 18 anos e ainda não sabendo quem era, dei por mim a
tentar definir-me, integrar-me, enquadrar-me num dos estilos. Começava tudo na
parte do vestir. O pior é que eu gostava de alguma coisa em cada um deles e
havia sempre qualquer outra coisa de que eu não gostava tanto. Adorava o look fancy dos betinhos, as cores e
o estilo à vontade, leve e confortável dos hippies, o ar misterioso, a maquiagem nos olhos e
cabelo em negro dos góticos…Tive a minha fase mais gótica, a hippie, a betinha…
mas em qualquer uma delas nunca vestia apenas aquele estilo.
Não demorou muito para
que percebesse que eu era uma autêntica salada de frutas e que não havia nada
errado nisso. Adoro vestir-me toda de negro e ter o cabelo preto; há dias em
que me apetece vestir um vestido de marca, cortar o cabelo a chanel e por
saltos altos, ou vestir o fato; outros dias em que quero saia comprida e colorida,
chinelos e vou assim a uma festa. Sinto-me bem e eu mesma em qualquer um destes
estilos. Não sinto que esteja a representar ou a ser um personagem mas sim que
naquele dia sinto-me mais eu, bonita e confortável vestida daquela forma.
Mas
não se limita ao estilo de vestir. Passa
pela música que se ouve. Adoro música clássica,
rock alternativo, jazz, r&b, ouço algum hip hop, reggae, e pop também. Pelos
filmes que se vê. Adoro dramas, comédias românticas, suspense, musicais e vejo
animação, ficção científica, acção. Pelos lugares que se frequenta. Adoro
cidade e campo, bares in e tascas, bons restaurantes e uma boa roulote, acampar e um
hotel confortável. Pelos amigos que se tem. Não preciso que estes sejam do
mesmo estilo que o meu, que pensem exactamente como penso, que façam
exactamente as mesmas coisas que faço. Eles são diferentes e com cada um
aprendo, acrescento-me, fico mais rica.
Algumas
pessoas podem pensar que isto é ser-se indefinido. Mas prefiro, e aos 30 tenho
certeza disto, ter esta cabeça aberta e gostar de estilos diferentes do que
estar presa apenas a um conceito, a uma forma, e não dar chance a mais nada que
não caiba nele. Até então só tive a ganhar. Claro que tenho certas preferências,
um estilo que faz parte de minha vida de forma mais frequente. Mas recuso-me a
que seja o único.
Adoro salada de frutas – é doce, é sobremesa, ou seja,
gostosa, é saudável, tem diversidade. Como disse a Clarice Lispector, e se me
achar esquisita, aprenda a respeitar porque até eu tive de fazê-lo – at the end
of the day sou uma “pessoa salada de frutas”. Na minha forma de vestir, de ser,
de estar, de gostar. E acreditem, a vida assim é sempre uma surpresa…estar
sempre aberta a “conhecer uma fruta nova”, experimentá-la e saber qual o sabor, a “vestí-la”,
“vê-la”, “ouví-la”, “amá-la” e deixá-la fazer parte de minha vida.
by Vânia Isabel Medina
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