23/05/12

Salada de Frutas


Uma das primeiras coisas com que me deparei quando fui estudar a Lisboa foi de que as pessoas se catalogavam conforme o estilo de roupa, música, gostos, forma de pensar, atitude perante a vida no geral. Já tinha visto em filmes de high school típicos norte-americanos, mas em Portugal dei por mim dentro daquela realidade. Os betinhos, os góticos, os hippies, os cromos…
Achei interessante. E, como é óbvio, tendo 18 anos e ainda não sabendo quem era, dei por mim a tentar definir-me, integrar-me, enquadrar-me num dos estilos. Começava tudo na parte do vestir. O pior é que eu gostava de alguma coisa em cada um deles e havia sempre qualquer outra coisa de que eu não gostava tanto.  Adorava o look fancy dos betinhos, as cores e o estilo à vontade, leve e confortável dos hippies, o ar misterioso, a maquiagem nos olhos e cabelo em negro dos góticos…Tive a minha fase mais gótica, a hippie, a betinha… mas em qualquer uma delas nunca vestia apenas aquele estilo.
Não demorou muito para que percebesse que eu era uma autêntica salada de frutas e que não havia nada errado nisso. Adoro vestir-me toda de negro e ter o cabelo preto; há dias em que me apetece vestir um vestido de marca, cortar o cabelo a chanel e por saltos altos, ou vestir o fato; outros dias em que quero saia comprida e colorida, chinelos e vou assim a uma festa. Sinto-me bem e eu mesma em qualquer um destes estilos. Não sinto que esteja a representar ou a ser um personagem mas sim que naquele dia sinto-me mais eu, bonita e confortável vestida daquela forma.
Mas não se limita ao estilo de vestir.  Passa pela música que se ouve.  Adoro música clássica, rock alternativo, jazz, r&b, ouço algum hip hop, reggae, e pop também. Pelos filmes que se vê. Adoro dramas, comédias românticas, suspense, musicais e vejo animação, ficção científica, acção. Pelos lugares que se frequenta. Adoro cidade e campo, bares in e tascas, bons restaurantes e uma boa roulote, acampar e um hotel confortável. Pelos amigos que se tem. Não preciso que estes sejam do mesmo estilo que o meu, que pensem exactamente como penso, que façam exactamente as mesmas coisas que faço. Eles são diferentes e com cada um aprendo, acrescento-me, fico mais rica.  
Algumas pessoas podem pensar que isto é ser-se indefinido. Mas prefiro, e aos 30 tenho certeza disto, ter esta cabeça aberta e gostar de estilos diferentes do que estar presa apenas a um conceito, a uma forma, e não dar chance a mais nada que não caiba nele. Até então só tive a ganhar. Claro que tenho certas preferências, um estilo que faz parte de minha vida de forma mais frequente. Mas recuso-me a que seja o único.
Adoro salada de frutas – é doce, é sobremesa, ou seja, gostosa, é saudável, tem diversidade. Como disse a Clarice Lispector, e se me achar esquisita, aprenda a respeitar porque até eu tive de fazê-lo – at the end of the day sou uma “pessoa salada de frutas”. Na minha forma de vestir, de ser, de estar, de gostar. E acreditem, a vida assim é sempre uma surpresa…estar sempre aberta a “conhecer uma fruta nova”,  experimentá-la e saber qual o sabor, a “vestí-la”, “vê-la”, “ouví-la”, “amá-la” e deixá-la fazer parte de minha vida.
by Vânia Isabel Medina

Sem comentários: