20/08/12

Caixinha de Sentimentos


Normalmente fazemos determinações de mudança no final e início de cada ano. Eu aprendi a recomeçar em qualquer altura. Basta sentir que seja necessário.
Hoje acordei com vontade de mudar, dar um passo a frente  e falar do que me vai na alma.
Há momentos destes, em que sentes que deves avançar, em que sabes exatamente o que fazer, como fazê-lo, o que dizer, a quem.
Hoje, da minha caixinha de sentimentos, decidi que pessoas retirar, que pessoas manter e aquelas que vou manter e amar sempre.
Comecei por decidir que há pessoas que não quero mais em minha vida. Pensei que devia olhar estas pessoas nos olhos e explicá-las a razão pela qual me afastaria delas. No final, cheguei à conclusão que não valia a pena! Pelo mesmo motivo que as queria fora de minha vida. Não me merecem. Silenciosamente apaguei o perfil delas do meu grupo de amigos no Facebook, apaguei o contato no móvel e as mensagens que guardava com tanto carinho. Falta apagá-las de mim. Há certos clichés e frases feitas de que gosto e “o tempo cura tudo” definitivamente é uma delas.
Sei agora que há pessoas que quero manter em minha vida mas repensei o lugar delas e estavam num patamar muito elevado. E sem nenhum problema, coloquei-as abaixo disso.
Tenho conhecidos, e com estes continuarei a ter a mesma atitude amável, de respeito e humildade.
Faço amigos facilmente e continuarei a fazê-lo. São pessoas que fazem parte de minha vida, com as quais partilho vários momentos, aprendo,  e que inevitavelmente ficarão nela de alguma forma, sempre, nem que um dia a única coisa que digas seja um olá. Aquelas que mantenho mesmo quando me magoam, porque errar é humano. Perdoo. Porque o meu carinho por elas faz isto acontecer. Porque no final merecem estar no meu coração.
Grandes amigos, aqueles que não basta explicar, é preciso sentir. São poucos o que o conseguem ser, em minha vida. Hoje, tenho 4. Comparo-os com os dedos de minha mão, a qual fecho juntando os quatro e o polegar sou eu protegendo-os. São meu tesouro. Estes acarinharei ainda mais.

Descobri que tenho alguém a quem posso chamar “My Person”. Tenho um amor tão grande por ela que quero protegê-la até de mim e das coisas que faço que possam magoá-la. Vejo nela uma beleza que me comove e faz-me querer ser melhor.

Minha família. Minha marca maior. E hoje percebi que, mesmo estando neste momento numa das piores fases de nossa vida familiar, em que tudo parece estar em causa, ainda assim amo-os tanto que não os trocaria. Quero este Pai, esta Mâe, este Irmão, que é metade meu Filho.

Hoje, quis mais do que nunca olhar para ti e dizer-te tudo. Faltava só isso para que eu finalizasse este passo de mudança.

Toda a minha vida a procura maior foi deste Amor de Mulher e Homem, ou Mulher e Mulher.

Intensa, impulsiva, impaciente. São caraterísticas minhas que me fizeram viver o melhor e o pior das relações. Minha vida amorosa nunca foi monótona. Mesmo nos momentos em que decidia ficar sozinha parcecia que o Universo provocava e trazia paixões… e eu jamais recusei o “desafio”. Ainda assim tive sempre este sentimento de “something missing” e de entrega incompleta.

Agora conheço-te. Tudo mudou. Olho para ti e vejo-me a sentir… Como se meu corpo, minha cabeça e meu coração estivessem perfeitamente sintonizados. Não sabia que isso fosse possível. Em nenhum momento tinha conseguido tal proeza emocional.  

Apetece-me dizer-te “Gosto de Ti”. O porquê de não o fazer é que me dá a certeza do que sinto.

Hoje, pensando de mim para ti e de ti para mim, finalmente admiti que o sentimento do outro lado não é o mesmo, e por tal preciso avançar e decidir como ficas na minha caixinha de sentimentos.

É minha - e só minha, a responsabilidade de gostar de ti. Tu jamais o alimentaste, de forma alguma, jamais criaste qualquer expetativa em mim senão de uma amizade que poderia crescer entre nós. 

Este sentimento trouxe-me um dos melhores momentos de minha vida, do sentido do meu eu, de entrega, de calma e viver com alma.
Vi o quanto mudei nestes meses. A maturidade deste sentimento que me faz  estar e ser serena e paciente, tanto que escolhi, pela primeira vez, ficar calada ante a evidência. Coisa que nunca fiz desde que me tornei Mulher. 
Com ele veio também uma maior consciência de mim. Da minha insegurança, da falta de auto-estima que me faz agir como uma idiota em determinados momentos e que me diz que nunca gostarás de mim. Que acaba por ser compensada, em certa medida, – embora não a desculpe, pela segurança na minha personalidade e inteligência, no amor que dou, a paz que transmito e minha humilde abertura à vida e às pessoas, que me diz que terias sorte em gostar de alguém como eu. Da mesma forma que sinto ter sorte por gostar de ti.

Ficou também a certeza de minha natureza apaixonada, que prefere o real – ser tocada e amada. De alguém que quer o romance, mãos dadas, rir, conversar, estar. Viver emoções. Abraçar forte. A entrega física e emocional.

Não faço planos. Sou mais de viver cada dia intensamente. De entregar-me e sentir o outro a abandonar-se em mim, sem reservas. Não sei viver um amor platônico. Meu coração é intenso demais para isso. Meu corpo exige a presença. Dizer a olhar, a tocar. Não sou pessoa que queira esconder o que sinto. Não seria verdadeira comigo.

Sei que prefiro ter-te na minha vida como amigo do que não te ter.
Por isso, quanto a ti, hoje resolvi avançar. Gosto de Ti. E não deixarei de gostar facilmente. Custou-me admitir. Aceitar. Hoje, acarinho este sentimento. Protejo-o dentro de mim porque é bonito, é espontâneo, veio sem o procurar e foi acontecendo sem notar. No entanto não o posso manter. Não nesta forma - apenas de mim para ti, e sem o poder dizer e mostrar.
Hoje da minha caixinha de sentimentos decidi que pessoas retirar, que pessoas manter e aquelas que vou manter e amar sempre.
Quanto a ti, não quero nem posso retirar-te de minha caixinha de sentimentos. Decidi retirar o sentimento de mulher e manter-te e amar-te sempre, mas como amiga.

by Vânia Isabel Medina
Série "Os 30 e a Cidade", Capítulo "Momentos Decisivos".
Imagem de Magnar Bornes

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